O fim do dia do primo sem carro envolve japoneses e alemães
14:30 - Comecei uma reunião. Tudo correu normalmente, a não ser por uma parte da conversa onde uma das engenheiras presentes falava:
- Mas é que essa obra dessa estrada vai atrasar porque o pessoal lá pediu pra gente contratar um geólogo e um antropólogo...
- Peraí um poquim. Antropólogo?! Pra construir uma estrada?!
- É, foi o que o pessoal lá falou...
Antropólogo, antropólogo... aquilo não me saiu da cabeça. Ele ia estudar o quê, o impacto socio-cultural da estrada?! Mas aí a engenheira completou:
- É que naquela região tem muitas grutas, e por isso que eu acho que pediram um antropólogo...
- Não seria um arqueólogo não?
- Ahnnn.... talvez....
5:40 - Acabou a reunião e estou eu, sozinho e a pé, na Praça da Liberdade. Havia marcado de me encontrar com Bethania... às 8:30.
Minha primeira tentativa de preenchimento das 3 horas de espera foi um cinema. Obedecendo fielmente à lei de Murphy, as sessões só começavam dali a uma hora e meia e terminavam depois das 9.
5:55 - Fui folhear uns livros na livraria anexa ao cinema e gostei muito de um deles, intitulado Kanji Pictográfico - Dicionário Ilustrado mnemônico-japonês-português. Sabia que o ideograma para "esposa" é o desenho de uma mulher segurando uma vassoura?
6:15 - Deixei a livraria e não fazia a menor idéia do que ia fazer a partir dali. Foi quando percebi a placa metálica do prédio na minha frente, que dizia: Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa. Puxa, nunca havia ido a uma biblioteca pública. Será que eles tinham o Eu, Robô do Isaac Asimov pra eu ler?
Depois de lidar com os funcionários públicos mais mal-humorados do estado de Minas Gerais, descobri que:
1. Sim, eles tinham o livro!
2. Eu não poderia ler o livro na biblioteca porque ele estava no acervo "somente para empréstimos"
3. Eu precisava de R$ 3 e de voltar o tempo por quinze minutos para poder fazer uma carteirinha da biblioteca e pegar o livro.
6:22 - Fui para o outro setor da biblioteca, o de "consultas e pesquisas". Lá havia mesas e cadeiras e eu poderia ler o quanto quisesse. Desde que eu quisesse ler sobre "Cálculo Numérico", "Psicanálise Freudiana", "Anatomia Básica" ou qualquer outro assunto técnico, já que os livros eram só desse tipo.
Eu já ia me conformar com um livro de marketing do Kotler quando passei na prateleira de línguas estrangeiras e vi um grupo de livros negros. Na lombada deles, dizia apenas:
Deutsch 1-4
Deutsch 5-9
Deutsch 10-14...
E ia até o sexto ou sétimo volume, Deutsch 46-50. Mas o melhor era que o primeiro volume (1-4) estava bem desgastado, enquanto os outros pareciam nunca ter sido abertos, de tão novos. Era um aviso: reles mortal, jamais passarás do primeiro volume!! MWAHAHAHAHA!!!
O livro era estranho: tinha figuras com legendas, e só. Nenhuma explicação de gramática nem nada. Provavelmente o livro devia acompanhar fitas de áudio ou um guia de exercícios, que obviamente não estavam ali.
7:50 - A biblioteca já estava fechando e eu estava no fim da lição 2 do livro. Empolgadíssimo. Não sei como mais pessoas não se aventuram a falar alemão. É a língua mais intuitiva que tem.
Pegue por exemplo, o sobrenome do nosso amigo da Fórmula 1, Schumacher:
Schumacher = Shoe Maker = Sapateiro. Sério!
Além disso os substantivos alemães são engraçados pra quem sabe inglês. Exemplos:
Gross (nojento, em inglês) significa alto, grande.
Dick (*****, em inglês) significa gordo, grosso.
Hut (cabana, em inglês), significa chapéu.