06:45 - O despertador do celular toca. Hora de sair pra fazer cooper (!!), tomar um banho e ir trabalhar.

09:00 - Chego no trabalho.

12:10 - Saindo pra almoçar com mais 3 colegas. Homens de gravata, mulheres de tailleur. Até 10 minutos atrás estava chovendo horrores. Mas parou.

Fomos atravessar uma avenida e, quando estávamos no canteiro central, um carro passa voando... sobre uma poça d'água. Onda gigante de água em cima de nós.

- Filho da puuuuuuuta!!! - Grita o colega 1
- Puta merda!! - Grita o colega 2
- Meu cabelo!! - Grita a colega 3
- "Barro na água?! Hmm... não... então daqui a pouco eu seco" - Penso eu.

Foi muita água e todos estavam ensopados. Menos eu, que só molhei um pouco. "Corpo fechado", disseram meus colegas.

Ficamos uns 10 minutos no sol, os 3 xingando pais, mães e umas três gerações de antepassados do motorista do carro. Depois, fomos almoçar.

13:40 - Já de volta ao trabalho, chega um gerente de lá de onde estamos trabalhando, terno e gravata e rindo até a orelha. Ele pára na porta da sala e fala:

- E aí, molharam muito??

Todos os teclados dos nossos notebooks subitamente páram de fazer barulho.

- Tava passando na avenida, molhei três bobos engravatados que estavam passando. Hehehe...

A sala fica em silêncio. Ninguém podia fazer nada com ele, já que ele era o nosso cliente. No silêncio, veio um pensamento, em uníssono:

- FILHO DA PUUUUUUUTA!!!

13:42 - O gerente-mala sai da sala, rindo. A colega número 3 se desculpa:

- Gente, foi mal! Eu encontrei ele ali no corredor e contei a nossa história, não foi ele não, ele só tá zoando com a nossa cara.

Todos se entreolham. O mesmo pensamento, em uníssono:

- FILHO DA PUUUUUUUTA!!!

18:30 - Saindo do trabalho, entrando no carro. No meu discman, habilmente ligado no carro pelo meu "gambiarra sound system" (em breve um post vai explicá-lo), tocava "Providence", música de um disco chamado F#A#(sinal de infinito).

19:10 - Godspeed You! Black Emperor prova, mais uma vez, seus poderes alucinógenos. Enquanto dirigia eu pensava:

- "Putz, era pra eu ter virado ali... errei... culpa desse CD..."

Eu olhava para os carros engarrafados na rua e eles estavam longe... longe... como num sonho. Aí cheguei aonde estava indo.

- "Nossa, que fome... vou ali comprar um pão de queijo... mas... essa música tá quase acabando..."

20:15 - Tem um senhor que a gente já faz visita há algum tempo. Ele é velho e magro, e foi diagnosticado com demência.

A visão que tive das primeiras vezes que o vi não foi das melhores. Da primeira, ele estava dormindo, de camisa surrada e uma calça de moleton, com buracos queimados por cinzas de cigarro que devem ter caído lá. Muitos deles num cinzeiro do lado da cama.

Na segunda vez ele estava sentado, sozinho, na sala. Imóvel. A sala escura e ele, magro, mal vestido e estático. Do lado dele, uma cerveja (sem álcool, recomendações médicas) e cigarros. O cheiro era difícil de aguentar. O cigarro que ele tinha nas mãos ia queimando, queimando, e as cinzas, prestes a cair.

Mas as coisas foram, lentamente, melhorando.

Hoje nós chegamos e ele veio sozinho até a sala. "Vamo entrar", convidou ele. Depois de se sentar, falou, brincando, com o chefe da nossa equipe de visita:

- Tá difícil esse seu carro hein...

E riu.

Há alguns meses ele nem se levantava da cama pra receber a gente. Hoje ele riu o sorriso mais significativo que eu já vi.