Quando o dono de um blog não atualiza o dito cujo, de duas uma (que na verdade são três):

1) Ele não se interessa mais pelo blog
2) Ele não tem nada de interessante pra botar no blog
3) Ele até tem algo interessante para botar no blog mas não tem tempo

Eu me encaixo na opção 3. Então vou ser rápido:

Manhã de hoje

Reunião para detalhar um cronograma de um projeto de construção. Entra mulher randômica na sala de reunião, interrompendo tudo, sutil como um rinoceronte.

A mulher, que será carinhosamente chamada de Mumm-Ra, fala sem parar. Eu odeio quem fala sem parar. Aí eu me esforço pra detalhar o cronograma:

- Bom, mas essa obra aqui, como está indo?
- Ah, tem mais de ano que tá atrasada - Responde outro ser randômico da reunião.
- Ok... então, me fale em qual etapa houve o atraso, pra eu atualizar aqui...
- Não, não, esse é um projeto atípico, muda a data de início que aí fica tudo certo - diz Mumm-Ra
- Mas... mas se eu deixar como está e indicar onde houve o atraso...
- Mas esse é um projeto atípico! Não serve de referência. Vai, muda a data inicial... depois, vai que o chefe vê isso aí, vai dar problema...

E eu penso: "Oh, já entendi. Essa mulher quer que eu, na cara dura, camufle o atraso... mas isso não vai ficar assim não, vou usar toda a minha destreza social e vou fazer essa mulher aceitar o atraso no cronograma nem que seja a última coisa que..."

Aí, nesse momento, um colega de trabalho, que estava na reunião para, teoricamente, me ajudar, diz:

- Não, muda a data inicial mesmo...

E nesse momento a expressão "deu vontade de cuspir e sair nadando" fez todo o sentido do mundo.

Tarde de hoje

Reunião num centro sócio-educativo para menores (ex-FEBEM). Como Mumm-Ra não estava, a reunião foi um sucesso fulminante e deu pra detalhar tudo. E no final ainda pudemos ficar de bate-papo com a pedagoga do lugar, responsavel pelos "meninos".

As histórias do lugar eram bem peculiares. Uma vez houve uma rebelião, os meninos estavam com facões e espetos artesanais (os chamados "chuchos"), e na negociação queriam trocar os chuchos por... sanduíches e refrigerante. Tem também a história da "visita íntima". Isso é permitido num centro do Rio Grande do Sul, conforme contaram. Dizem que lá, com a permissão da visita íntima, a redução na agitação e ansiedade dos meninos foi drástica. E a pedagoga contou que, volta e meia, alguém tentava assaltá-la na rua. Ela reconhecia o ex-interno e falava: "Ei moleque, não me reconhece mais?". O menino ficava sem graça, dizia "desculpa, tia", e saía sem roubar nada.

Mas também há a dimensão triste da coisa: numa assembléia onde os meninos foram consultados sobre o que queriam num novo centro, que ia ser construído, o principal pedido deles foi... janelas. Janelas. Eu não vou me esquecer disso tão cedo.