O Primo na Adega do Sul
Hoje é o último dia de um dos projetos onde estou alocado, além de ser aniversário da Kelly. Então lá fomos nós todos fazer um "almoço especial" de despedida. E, obviamente, tinha que ser um lugar especial (ou seja, caro e grã-fino).
E lá fomos nós pra Adega do Sul.
Eu detesto lugares grã-finos e caros. Primeiro, porque são caros (óbvio). Segundo, porque são grã-finos. Aí é complicado, porque parte do meu conceito de comer bem envolve não pagar caro e me sentir à vontade no local, coisa que não acontece nesses lugares. Mas, justiça seja feita, a comida é realmente mais gostosa do que nos lugares "normais".
A primeira coisa ruim desses lugares é o atendimento excessivamente bom. Digo excessivamente porque o manager (lugares assim não tem gerente ou recepcionista, tem manager, hostess e outras bobagens americanizadas) passou pela nossa mesa por SEIS VEZES perguntando se estava tudo bem, se estávamos bem servidos. Deu vontade de virar pra ele e falar que se estivesse algo errado, eu o chamaria. "E pare de me encher o saco", pra finalizar.
Outra coisa ruim é não fazer idéia do que você está comendo. Eu me levantei para me servir no buffet de saladas, ia olhando e pensando:
- Hmm, que é isso? Hmm... não, que coisa mais estranha... hmmm, e esse feijão sem cor aqui? Essa cenora cor de baunilha? Eco. Argh, e isso aqui? Credo, como isso aqui chama?...
Quando vi, eu estava no final do buffet e meu prato estava vazio. Tive que pegar uns queijinhos, uns presuntos estranhos e vinagrete (únicas coisas que conhecia) e voltar pra mesa.
Ah, os cubos de gelo que ficavam embaixo do buffet eram... redondos e... etiquetados. É que não era gelo, eram umas bolsinhas redondas de plástico transparente que eles congelavam.
As carnes eram servidas a todo instante. Pra indicar se você queria ser servido, na mesa tinha uma coisa redonda, tipo um porta-copo, onde um lado tinha uma boca de mulher, verde, aberta, escrito: "Sim, por favor. Yes, please.". Do outro, a boca era vermelha e tinha escrito: "Não, obrigado. No, thanks". Só sei que a boca verde aberta e o "yes please" me deixaram pensando bobagem...
Teve uma coisa que foi meio traumática: um dos garçons passava com um carrinho, sobre ele havia um leitãozinho, assado inteiro, daquele jeito que se vê nos filmes onde tem aqueles banquetes. O pobre do leitão tinha duas cerejas no lugar dos olhos e uma rodela de limão na boca. E ele estava sorrindo! Juro pra vocês que toda hora que o leitão passava, eu não conseguia tirar o olho do seu sorriso com limão.
Mas teve coisas boas. A primeira foi a picanha. O garçon passou anunciando "picanha nobre, senhor?" e eu logo quis comer uma nobre (opaa). Ele jogou a picanha no prato e ela fez "plaft", e esguichou sangue. Acho que nunca escrevi uma descrição tão nojenta para algo tão gostoso. A outra coisa boa, por incrível que pareça, foi a sugestão da Kelly para sobremesa: petit gateau. Esse é o nome idiota para sorvete com um bolinho quente e suculento de chocolate com calda dentro. Incrivelmente bom. Pena que não vendem isso no supermercado. E a terceira coisa boa: quando eu me lembrei da conta, ela já estava paga! Quem pagou foi o consultor sênior da nossa equipe.
Mas o melhor de tudo, disparado, é que enquanto escrevo este post, Kelly vai embora da sala... e não mais terei que suportá-la, já que o projeto acabou. Adeus, Kelly, vá pro inferno.