Nutrição musical
Eu já devo ter mencionado isso aqui mas vou falar de novo.
Tava ali ouvindo o CD novo do Radiohead, o Hail to the thief, ele provou novamente que existem dois tipos de música boa.
Tem músicas que são como fast food: é consumo rápido, você ouve e plim, bateu, achou lindo e fissurou na música. É como chocolate, você come, fala "hmmmmm..." e acha uma delícia. Mas se ficar comendo sempre, enjoa. A maioria das coisas que toca no rádio é mais ou menos assim, daí a rotatividade das one hit bands.
Acontece o mesmo com a música boa desse tipo. O tempo passa, você ouve a música e ela não soa tãão boa assim. No disco do Radiohead, logo na primeira vez que eu ouvi a segunda faixa, Sit down. Stand up, eu entrei naquele nirvana sonoro onde a gente gasta todo tipo de interjeição maluca: "poooutz... quewilson...". A progressão tonal até os "raindrops", caindo viciosamente, aquilo era a descrição sonora das "garras do inferno" que Yorke tinha acabado de cantar. Mas agora a coisa já não tá tãão assim não, embora a música não tenha deixado de ser boa.
E tem também outro tipo de música boa, que é a "nutritiva". É aquela que vai atuar num nível muito mais profundo que o "fast food". Você vai ouvir uma, duas vezes, três... e de repente, numa das vezes em que você ouvir a música descompromissadamente, ela vai bater. E vai bater fundo. Essas músicas normalmente viram aqueles clássicos da sua vida, aquelas músicas que vem na sua cabeça quando te perguntam qual a melhor coisa que você já ouviu.
O encerramento do CD do Radiohead é assim, com a música A Wolf at the Door. Acho que foi da terceira ou quarta vez que eu ouvia o CD, a música bateu igual um taco de baseball. Quando chega o refrão, o Thom Yorke canta;
I keep the wolf from the door but it calls me up
Calls me on the phone, tells me all the ways he is gonna mess me up
Steal all my children if I don't pay the ransom
& I'll never see them again if I squeal to the cops
E, minha nossa... a coisa se mistura de uma forma na sua cabeça, é como se você compartilhasse da dor e ansiedade do Thom Yorke a cada um daqueles agudos no final das frases... a densidade do instrumental, a harmonia, tudo se enfia dentro de você e não tem como não ser arrebatado por aquele mar esquisito e maravilhoso de coisas maravilhosas e esquisitas...