Há mais ou menos 40 minutos eu estava deixando Bethânia (minha namorada) em casa. Estávamos nos despedindo dentro do meu carro, parado na rua dela que é uma ladeira. Na esquina da parte mais baixa tinham algumas pessoas conversando.

De repente começo a ouvir uns barulhos parecidos com estouro de rojão, uns quatro ou cinco estampidos. Mas havia algo errado... o intervalo entre cada estouro não era rápido como nos rojões normal, e o som era mais "seco"... eu estranhei o ruído, Bethânia perguntou:

- O que foi?
- Peraí...

Olhei pro fim da rua e vi todo mundo correndo, um cara rolando no chão e a fumaça de uma bala ricocheteando na parede de uma casa. Eram tiros!

- É tiro, vambora - falei, enquanto engatava a ré no carro.

Comecei a subir a rua de ré, como um louco. Junto comigo um Uno que estava perto e estava fugindo do mesmo jeito. Virei na primeira esquina que vi, de ré mesmo, a centímetros do meio-fio. O Uno passou voando por mim. Já fora de perigo, avancei o carro até a esquina para ver o que estava acontecendo.

Já se juntava um grupo de pessoas, tinha gente gritando e um carro com pisca-alerta ligado no meio da bagunça do fim da rua. Bethânia pegou o celular e ligou pra polícia, conseguiu falar depois de umas duas tentativas. Demos um tempo e depois voltamos pra rua, já cheia de curiosos e com uma mulher subindo, a pé, com uma cara de susto. Ia dizendo:

- Putamerda... putamerda...
- O que foi? - Perguntei
- Mataram o Anderson...
- Quem é Anderson? - perguntou Bethânia
- Anderson, o cara do jornal...

Devia ser um jornaleiro da rua. Como não conheço a vizinhança, não sei quem é. A moça continuou:

- Cara, foram uns cinco tiros! Muito sangue, muito sangue... eu vou ter que ligar pra minha amiga, ela vai ficar louca...

E saiu andando, perturbada. Esse é o terceiro evento com tiros que eu vejo, só nesse semestre.