O dia que prometia muito, cumpriu! Os primeiros shows da noite foram no Laboratório Eletrônika, no Teatro João Seschiatti, que surpreendeu pelo conforto e qualidade do som. A primeira banda, National, se apresentou com A' (edição de vídeo ao vivo). O National faz um som completamente experimental, intimista e minimalista. São blips e tóings e bzzzzs o tempo todo. Sem ritmo, sem notas. Sabe aquelas piadas sobre arte onde as pessoas ficam zoando quando o artista faz uma maluquice incompreensível e os "cults" acham que ele é um gênio? Eu estava me sentindo assim durante o show. Três caras subiram no palco, fizeram barulhinho de coisa estranha, e achei genial. A', responsável pelo telão, fez a primeira edição de vídeo ao vivo que eu achei legal. Nota: No intervalo do show, na banca de CDs da Bizarre (gravadora do National e do Objeto Amarelo), estava o lançamento do National: 9 CDs. E iriam lançar mais 9 em junho. Um deles tinha uma montagem na capa com a foto famosa do "Tourist Guy" no World Trade Center, com a cara do Bin Laden, e embaixo, o título do CD: "Osamba Pede Passagem".

O segundo show foi Objeto Amarelo. Carlos Issa, mentor do projeto, cantava e tocava guitarra, junto com um baixista e um baterista. Na edição de vídeo e nos barulhinhos, a dupla Fêmur. Meu Deus, que show foi aquele! O que ouvi foi um O.A. diferente do que se ouve nos MP3 e nos discos: eram versões "punk rock" das suas músicas eletrônicas. Destaque para as letras curtas e instigantes, como DIX, que a platéia pediu: "A massa cinzenta/pressiona a caixa craniana/E inventamos a cultura". A edição de vídeo também foi legal, outra boa surpresa. Outro destaque para o vocal de Carlos Issa, meio gritado e com todas as letras de todas as palavras, naquele sotaque paulista que até me lembrou o Supla. Belíssima apresentação, muito boa mesmo!

O terceiro show do Laboratório foi Golden Shower. Decepcionante até o fim. Um telão passando vídeos dos anos 80, bonecos quadradões estilo Atari no palco, e só um cara gordo com máscara de coelhinho tocando (pra disfarçar), ora um sampler, ora uma bateria eletrônica. No fundo, playback das músicas, inalteradas. Para uma coisa alardeada como "Golden Shower Experience", a única experiência que tive foi a de ficar com sono vendo clipes da MTV.

Saímos para o Teatro Francisco Nunes para ver Mogwai... que tinha acabado de começar. Bom... putz, não tenho palavras pra descrever o que estava acontecendo no show do Mogwai... Mogwai sim, foi uma experiência! O guitarrista/vocalista principal viajava na guitarra, a banda construía um som leve, minimalista, que você ia absorvendo lentamente... e depois que sua cabeça entrava na música, tudo explodia em distorção e agressividade e era como se tivessem pegado seu cérebro e chacoalhado dentro do crânio. Depois, a calmaria novamente... e a platéia, embasbacada, aplaudia. O vocalista tímido, sorria de lado e dizia "thank you". O som era lindo, ora calmo (até flauta teve), ora agressivo, mas sempre complexo, intenso, emocional. Era uma redenção para nossos ouvidos cansados da mesmice. Entre os "analógicos", Mogwai foi, sem dúvida, a melhor atração do Eletronika até agora. Tive apenas um porém em relação ao show: as músicas eram muito iguais na estrutura de "calmo-intenso-calmo". Mas quem está ligando pra isso?

Depois, meu primo ainda fazia a piada: "Coitado de quem vier depois do Mogwai!". E era o DJ/multiinstrumentista Olaf Hund, que ficou responsável por dar ao público algo interessante depois dessa experiência quase espiritual. E ele conseguiu...

Olaf começou num house comum, depois passou para um house legal e ia se encaminhando para o house realmente interessante. Além da música, era divertido ver aquele alemão magrelo, feio de dar dó, cantarolando e dançando desajeitadamente no palco, empolgadíssimo. E não era só ele. A pista ia enchendo, enchendo... quando me lembrei: ele ia se apresentar com uma trapezista. Aí, a cortina se abre, e uma bela (e musculosa!) alemã começou a fazer truques pendurada em uma corda. A platéia ficou alucinada! Olaf pulava no palco e a trapezista fazia paradas de mão e contorcionismo ao lado do palco. Eu que estava bobinho tirando fotos me assustei quando olhei pro lado e, além de uma pista lotada, vi uns QUINZE fotógrafos clicando desesperadamente a trapezista. A imprensa havia descobrido a atração da noite que merecia destaque nos seus sites/jornais/revistas. Olaf era o melhor entre os "eletrônicos" da noite.

Na sequência veio Kid Loco, um cara conhecido por produzir vários discos bons e meter o pau nos artistas pop franceses, como o Daft Punk. É hilário vê-lo criticar o hit 'One More Time': "Parece música de boate gay... 'one more time', ah, é nessa hora que as barbies se abraçam né...é muito cristão, muito bem intencionado...". Com isso eu esperava que, no mínimo, ele fosse ótimo, já que se achava tão foda pra poder criticar seus colegas franceses. E me surpreendi ao ver um DJ competente, sorridente, interagindo com o público e distribuindo pancada com sua house music. A pista adorou, eu também gostei, ponto para o Olaf.

No Eletrônica Parque, no meio do Olaf/Mogwai, eu vi pedaços do Waterfront House, live set de house ao vivo, que começou com uma pista vazia e terminou com bastante gente empolgada. Depois veio o DJ Robinho, que pegou uma pista já aquecida e administrou a animação com um house competente e empolgante.

E o terceiro dia é o dia de mais loucura com pexbaA e Cidadão Instigado, e dos grandes DJs... Marky, Renato Cohen e Anderson Noise são os mais esperados.