Eu estava lendo um site (extinto) chamado Quadradinho e pensando: "mas que site lixo, fala mal do disco novo do Trail of Dead e elogia o disco da Britney Spears...
Mas na sequência o anjinho bom da minha consciência falou na orelha esquerda: "Deixa disso. Se você for pensar em pop comercial, a Britney é o melhor que tem".

Daí fui ler a crítica do disco novo da Britney e me assustei ao ver a mesma sensatez da minha consciência:

"É preciso demarcar em qual contexto ela vai ser encaixada. Disso vai depender a conclusão final da crítica. (...) Se pegarmos o milionário teen pop atual, ela com certeza está no topo, dividindo o trono apenas com o N'Sync, enquanto todo o resto sã;o garotos chorões e garotas sem um décimo do seu carisma.

Por isso, e por mais do que isso, é muito mais interessante olhar Britney na sua própria órbita. Além de ser o estopim e a líder dessa onda pop, Britney é um fenômeno cultural. Fabricado? Claro. Não existe ingenuidade aqui. Porém mais ingênuo é quem quer comparar Britney a Beatles ou Radiohead. Ela possui seu assento próprio no mundo da música, e é lá que deve ser interpretada."

Mas aí veio o capetinha da minha consciência e sussurrou na orelha direita: "Mas se você for observar o artista pela sua própria ótica, é óbvio que ele vai ser bom. Na verdade, mudando a ótica você transforma excelentes músicos em lixo e vice-versa". E meu lobo frontal veio pra esquentar a discussão com um pouco de ceticismo: Afinal, pra que diabos você avalia artistas como "bom", "ruim", "mais ou menos"? Artistas deveriam ser pessoas que estão simplesmente trabalhando a expressão musical de um jeito ou de outro, e não tentando serem melhores ou piores que alguém. No mundo do teen pop eles parecem brigar para ver quem é melhor, mas na verdade é pra ver quem vende mais. E quando alguém desce o pau (ou venera) Britney Spears num fórum do Audiogalaxy, por exemplo, a pessoa está só dando a sua opinião. Talvez a Britney queira apenas vender discos. Talvez o Radiohead queira só colocar para fora um grande tormento mental. Talvez os Bit Cousins (hehe) queiram apenas brincar com música e ver até onde se pode chegar fazendo piada e torcendo timbres e sons estranhos. Por isso, artistas e bandas não deveriam ser avaliados e, quando o são, não deveriam ser avaliados fora do seu gênero.

É nesse ponto que o chão começa a se dissolver e as coisas vão sumindo... porque se você pensa por este lado, as críticas de cinema, música, arte, não fazem o menor sentido. Melhor (ou pior) ainda: não existe mais música ruim. Beethoven está no mesmo nível que É o Tchan. E é hora de você tomar uma decisão: Ou você vê as coisas pelo contexto delas, ou desvincula-as de qualquer contexto.

Só que sem contexto elas não existem. Nada existe.

Então, meu caro, a partir de agora, não diga mais: "pagode é uma merda". Nem tente justificar por que pagode é uma merda, é pior ainda. Diga apenas "eu não gosto de pagode", ou "eu não escuto pagode". E se você estiver bem corajoso, você pode até arriscar dizer que "o trabalho do Grupo Molejo é notável". Mais tarde, você pode até fazer o que outrora seria considerado um pecado mortal: sair do seu contexto musical e se permitir apreciar uma música do N'Sync.

Ah, que bom. Agora não sinto mais culpa por gostar de "I'm a Slave 4 U".