Pontos de vista de um atropelamento
Hoje, voltando pra casa, eu vi um atropelamento. Tinha acabado de acontecer. Parei o carro pra ver se minha experiência de assistir "plantão médico" podia servir pra alguma coisa e me inteirar da situação.
A vítima: Um indigente, bêbado e drogado com thinner. Não quebrou nada, mas bateu a cabeça, cortou feio e estava grogue também pela concussão. Respirava normalmente e estava consciente, portanto ninguém mexeu nele. Num hospital de primeiro mundo ele faria uma tomografia, mas como estamos no Brasil ele deve só tirar um raio X, levar uns pontos e ser liberado. Duvido que ele ganhe sequer aquele colar pra imobilizar o pescoço durante o passeio de ambulância. Legal viver no Brasil, ser pobre, andar drogado e ainda sofrer acidente.
O agressor: Alguém num Uno branco que não parou pra socorrer. Um motoqueiro que estava próximo saiu correndo pra parar o carro, saiu gritando para o motorista parar. O motorista levantou o dedo médio para o motoqueiro e arrancou. Legal ver como as pessoas tem compaixão no mundo de hoje.
A polícia: Tava passando uma viatura. Desceu um policial, virou para o acidentado e proferiu as seguintes palavras de sabedoria: "Ou, véi, tá me ouvindo? Mexe não viu véi". No radinho, enquanto ele chamava a ambulância, o português melhorou, até ouvi um "presenciou o ocorrido". Daí, quando alguém tocava o acidentado (que já tinha se virado de tudo quanto é jeito no asfalto), o policial dizia gentilmente: "PORRA VÉI não encosta nele não véi!!!". Legal ver a simpatia dos prestativos mas nem sempre gentis homens da lei. Né véi?