Sinais
Quinta-feira, véspera de feriado.
Seis e quinze da manhã. Meu pai me acorda.
_Leve sua irmã na aula, viu?
_zzzzzz...tá...
Eu ainda podia dormir até as sete da manhã, mas ele saiu e deixou a porta do quarto aberta, ligou o rádio e fiquei ouvindo Itatiaia até a hora de levantar.
Sete e dez. O telefone toca. É uma colega da minha irmã, que sempre vai de carona com ela pra faculdade. Ligou, eu atendi, ela nem perguntou quem era, só queria saber se ia rolar a carona. O motorista de táxi aqui respondeu que sim e que estávamos saindo.
Sete e meia. Estacionamento do meu trabalho. Descubro que uma das minhas colegas usa luvas pretas de couro para dirigir.
Oito horas. Uma sacola com três garrafas de dois litros de garapa são colocadas sobre a minha mesa:
_Tinoco, quando você descer pro café, leve essas garrafas pra cantina, pra colocar na geladeira de lá...
Oito e meia. As garrafas de garapa continuam olhando pra mim.
Oito e quarenta. Mesa do café. As pessoas olham pra mim e perguntam:
_Ué tinoco, cê tá puto hoje com o quê?
_Com nada, gente, só estou cansado.
_Não, fala a verdade, cê tá puto com o quê?
_Com nada, já disse...só tou cansado!
_Ah, cê não consegue disfarçar não, Tinoco, cê tá puto com alguma coisa!
_Não tou não, pô...
_Tá sim!!
Oito e quarenta e um. Outro colega senta-se à mesa. Ele passou máquina três na lateral de todo o cabelo, e máquina seis em cima. Daí, penteou o cabelo pra frente para cobrir a careca. Estava horrível. Horrível. Lembrei-me da garapa.
Oito e cinquenta e cinco. Corredor interno do Banco. Na parede à esquerda jazia uma bolinha de meleca, recém tirada, com um fio de cabelo da narina do dono devidamente pregado nele.
Itatiaia, luvas de couro, garapa, careca, meleca...Deus está querendo me dizer alguma coisa.