Na balada
Às vezes eu me pego pensando que devia sair mais. Então eu acabo saindo mais, o que me faz lembrar do por que de eu não sair tanto.
Foi assim no último sábado. Eu e Bethania fomos ao Hard Rock Café para "ciceronear" uma prima dela que mora em Joinville e que estava visitando Belo Horizonte. Ela queria conhecer a "night" belorizontina, então lá fomos nós.
As atrações da noite incluíam um show de uma tal banda chamada "Plano Piloto", que começaria por volta da meia-noite, e uns DJs que ficariam enchendo linguiça até a hora do show. O palco já estava todo pronto, com os instrumentos e o equipamento do DJ posicionado... em cima de um colchão. Imagine você, um lugar milimetricamente decorado com adereços "Rock'n Roll", guitarras pelas paredes, um conversível estilo anos 60 pendurado no teto... e um colchonete sobre o palco. Mau sinal.
Aí veio o primeiro DJ: um cara de uns 30 anos, com pinta de "riquinho que ainda mora com os pais", todo serelepe, fazendo caras e bocas enquanto tocava... hip-hop mela-cueca de rádio. O pior é que ele não sabia mixar: uma música acabava, ele botava outra, e ficava só nisso. Se tivessem colocado um CD qualquer e apertado o "play" dava exatamente no mesmo.
Eu já pensava em como iria pedir meu dinheiro de volta quando, depois de uma meia hora, ele entregou os fones de ouvido para outro cara que estava perambulando pelo palco. Era o "DJ 2 - A missão". Eu sabia que devia esperar o pior, mas assim que bati o olho no cara, alguma coisa me disse que ele sabia o que estava fazendo. A confiança no meu instinto foi tanta que eu cochichei pra Bethania, segundos depois dele subir ao palco:
- Presta atenção, agora você vai ouvir um DJ de verdade.
Eu não podia estar mais correto. O cara, chamado DJ Rhommel, era absurdamente bom. Ele tocou tudo do bom e do melhor do electro-pop atual (incluindo versões fantásticas de clássicos da dance music remixados) com uma intensidade tamanha que, em questão de minutos, o restaurante inteiro largou as mesas para trás e foi dançar em frente ao palco. E o DJ trabalhava com muito gosto: ele pulava, dançava, sacudia os braços, cantava junto...
Este, pra mim, é o diferencial entre o DJ bom e o DJ ótimo. O bom DJ apenas toca músicas: o DJ ótimo se diverte com as pessoas.
Assim, para minha grata surpresa, o tal DJ Rhommel ia mandando um dos sets mais espetaculares que já vi. Mas o tempo ia passando, a meia-noite ia passando... e Bethania perguntava: "Cadê a banda"? Eu bem que estava rezando pra banda desistir de tocar, porque, do jeito que estava, estava ótimo. E meus instintos diziam que a banda seria um lixo.
Infelizmente eu estava certo novamente. A certeza veio no instante em que estas três criaturas aí embaixo subiram no palco. Da esquerda para a direita, temos "baixista rejeitado pelo Jota Quest", "imitador de Alemão do BBB" e "Personagem de Dragon Ball Z".
Este é o Plano Piloto, uma mistura de N-Sync com Vila Boys...
Antes de vocês continuarem lendo, dêem uma sacada no site oficial da banda, que foi de onde eu tirei a foto acima. Notem que o site é produzido por uma das agências de propaganda mais famosas de BH e que as fotos foram todas tiradas em estúdio (porque isso é importantíssimo para produzir boa música, não acham?).
Durante os 10 primeiros minutos do show eu fiquei sentado, olhando e tentando entender como diabos eu fui convencido a pagar para ver aquilo. O vocalista cantava como se estivesse no Domingão do Faustão. O resto da banda seguia o "procedimento padrão de bandinha pop": o baixista fazia cara de mau, o baterista rodava as baquetas no ar, era tudo tão... pasteurizado!
Meia hora de show depois e fomos obrigados a ir embora.