Segunda-feira eu bati meu "personal levantar cedo pra viajar record": quatro e quinze da manhã. Ao mesmo tempo, bati meu "personal chegar tarde no trabalho record": dez e quinze da manhã.

Como, meus caros leitores, eu conseguiria bater estes dois recordes tão diametralmente opostos? O motivo só podia ser um: Windturn City...

A novidade é que dessa vez eu viajei acompanhado do trainee da equipe, que chamarei de... hmm, antes do pseudônimo, a história: na terça à noite, quando jantávamos na pizzaria da cidade (sim, Winturn City tem UMA pizzaria!), a gente tava batendo papo e eu estava incomodado com algo familiar no rosto dele... até que, de repente, veio a luz:

"Michael Jackson".

O cara é igualzinho o Michael Jackson na sua versão "branquela" atual. Obviamente, o trainee é mais "coradinho" e o nariz dele é perfeitamente normal. E a pizza que ele estava comendo não era sabor criancinha. Piadas à parte, Michael é gente boa e mostrou um bom entrosamento com o trabalho nestes primeiros dias. Mas o mais importante é que ele ronca pouco.

Outra novidade da semana é que não ficamos trabalhando na casa das sete mulheres, junto com a diretoria. O trabalho, dessa vez, foi dentro da fábrica. Nosso trabalho em Windturn City é botar nos eixos os projetos da empresa-cliente, que produz, entre outras coisas, explosivos. Consultoria é isso aí: ou você trabalha direito ou, além de levar esporro do cliente, corre o risco de virar paçoquinha...

Falando assim até parece que meus últimos três dias foram só emoção. Que nada... séries e séries de reuniões tranquilas com os gerentes, regadas a cafezinho, PowerPoint e uma bucólica vista da varanda da sala de reunião. Sim, varanda e sala de reunião na mesma frase, veja só...

O trabalho rende bastante em Windturn City, devido ao fato da cidade estar localizada num vórtice espaço-temporal que faz com que o tempo passe num ritmo aproximadamente 30% mais lento que o normal, conforme medido por cientistas (no caso, eu).

A vida na fábrica é bem rotineira: A gente ficava trabalhando até a hora que a sirene (!!) tocava, anunciando a hora do almoço, e depois saía junto com o resto dos funcionários - de capacete e tudo - pro refeitório da fábrica. O capacete é importante: ninguém anda por nenhuma área a céu aberto sem usá-lo. Eu, sinceramente, não sei como ele vai ajudar a me proteger se algumas toneladas de TNT resolverem explodir na minha cara, mas fazer o quê...

Uma hora depois a sirene toca de novo, mandando todo mundo de volta ao trabalho, e só volta a soar às cinco da tarde, quando o expediente termina e todo mundo volta pra casa. Ver o fim do expediente na fábrica é algo, assim... bucólico também. Dezenas de funcionários, muitos deles mais velhos e com aquela cara de desgastados pela vida, saindo pelo grande portão da fábrica, ainda com o capacete na cabeça, o crachá segurando-se pra não cair da gola da camisa pólo toda surrada... Muitos, inclusive, vão pra casa de bicicleta. Fazia tempos que eu não me lembrava de marcas como Monark e Barraforte...

Aí, de noite, é hora de eu e Michael Jackson deixamos nossas coisas no "hotel" (na verdade uma antiga hospedaria que fica dentro da empresa) e sairmos em uma missão impossível: jantar em Windturn City. Notamos que a cidade possui uma espécie de "ponto focal" que concentra todas as (três) coisas que ficam abertas durante a noite: Estas três coisas são a pizzaria (que não abre às segundas) e dois trailers de sanduíche, chamados "Chega Mais" e "Xique no Úrtimo". E o ponto focal é o sinal de trânsito, o único da cidade. Segundo o motorista que nos buscou no aeroporto, o sinal de trânsito é apenas "didático": serve só pra que os nativos treinem o que fazer quando estiverem de carro em cidades maiores...

É sério, Windturn City é tão pequena, mas tão pequena, que na segunda-feira, após ter completado apenas cinco dias na cidade, eu cumprimentei um conhecido na rua. Era o garçom do refeitório da empresa. E ele ainda me zoou: "Olha lá hein! Cuidado pra não se perder na cidade"... Sim, Windturn City é TÃO pequena que a pizzaria nem cobra o delivery, porque, segundo o garçom, "é tudo muito pertinho"...

Mas voltando ao jantar, eu e Michael, além da pizzaria, experimentamos o "Chega Mais". O sanduíche do "Chega Mais" era tão gorduroso, mas tão gorduroso, que eu só conseguí comê-lo até a metade. O resto eu deixei no chão pra que um dos vira-latas que passavam pudesse comer. Aí o cão olhou a comida, cheirou, depois saiu com uma cara de "hmm, melhor não, isso tem muita gordura trans"...

E foi isso: Na quarta à tarde eu deixei Michael Jackson sozinho, já que o resto da semana eu vou passar na capital paulista. Se tudo der certo com a minha agenda, eu só vou voltar a WTC daqui a duas semanas. Uma pena: até lá minhas reuniões não vão ser mais em salas com varanda...