Episódios de taxista
Episódio um
Segunda-feira, cinco e meia da manhã. O táxi pára exatamente em frente ao portão do meu prédio. João, o taxista, me ajuda com as malas e zarpamos para o terminal do ônibus que me leva ao aeroporto (*)
São cinco e quarenta e o táxi chega no terminal. É horário de verão, então ainda está tudo escuro. Peço ao João que faça um recibo pra mim e vou pegando as malas.
Quando percebo, João está fora do táxi, recibo na mão, caneta na outra, todo curvado, debruçando-se sobre o capô do carro, num ponto mais iluminado pelo poste.
Aí ele me vê olhando e resolve se explicar:
- Putz, minha vista num tá boa, mal consigo enxergar esse recibo aqui...
E foi esse mesmo cara que tinha acabado de me trazer até ali.
Episódio dois
Sexta-feira, cinco e meia da tarde, acabo de chegar de São Paulo e estou no Aeroporto da Pampulha, entrando no táxi.
Alguns minutos depois, Tadeu, o taxista pergunta:
- E aí chefe, quer ouvir alguma coisa?
- Ah, sei lá, pode colocar qualquer coisa aí.
Tadeu abre o porta-luvas e o pára-sol, todo orgulhoso, mostrando dezenas de CDs (piratas e/ou gravados)
- Pode escolher, chefia, tem de tudo aqui...
- Ah, qualquer coisa serve... tá bom, o que você tem aí?
- Tem de tudo, rock, música romântica, funk, techno, sertanejo, Emerson Nogueira...
E no exato momento em que ele disse "Emerson Nogueira" eu entrei em pânico e, num ato reflexo, disse:
- TECHNO! Er... bota o techno aí então.
Obviamente não era techno de verdade. O CD abriu com "Satisfaction", o sucesso de... Benni Benassi.
Episódio três
Segunda-feira, cinco e meia da manhã. O táxi pára exatamente em frente ao portão do meu prédio. Raul, o taxista, me ajuda com as malas e, no exato momento que eu entro no táxi, cerveja.
O táxi INTEIRO fedia a cerveja.
Rezei baixinho para que aquele cheiro não fosse do motorista, fosse apenas de algum passageiro bebum que tenha derramado sua latinha de Skol.
Olhei em volta para ver se achava alguma mancha molhada. E aí me arrependi, porque percebi o quanto o táxi estava sujo: as capas protetoras dos bancos estavam no estágio mais avançado de encardimento que eu já vi. E eu lá, de terno, tentando me manter o mais imóvel possível.
(*) É que o Aeroporto de Confins, lá em Belo Horizonte, não fica em Belo Horizonte, e sim em Confins. E como Confins fica depois de uma cidade depois de uma cidade depois de Belo Horizonte, o táxi pra lá fica muito caro, e portanto sou obrigado a pegar o ônibus executivo.